No Dia do Psicólogo especialista alerta para superficialidade de buscar aconselhamentos com uma máquina
Levantamento da Talk Inc sugere que um em cada dez brasileiros utiliza as plataformas de inteligência artificial como amigo ou conselheiro para desabafar sobre questões pessoas e emocionais e tentar resolvê-las. Dentre os participantes ouvidos, foram citadas justificativas como introspecção, ter poucos amigos ou ter amigos indisponíveis e solidão. Os dados também apontam que 60% das pessoas conversam com os chats de IA de maneira educada, como se estivessem conversando com um ser humano.
A neuropsicóloga Ana Beatriz Sahium, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica sobre esse comportamento. “Hoje o nosso mundo é muito digital, já tem uma diminuição de contato com as pessoas devido aos aplicativos de mensagens e redes sociais. A gente acaba conversando com a pessoa e nem sente que precisa talvez vê-la pessoalmente para se sentir próxima”, pontua. “Muitas pessoas também querem seguir a moda e acham que é legal isso de conversar com uma máquina, só que isso afasta cada vez mais do contato de pessoas. Então, ou elas estão seguindo a moda, ou essas pessoas estão evitando cada vez mais o contato humano”, completa.
Neste Dia do Psicólogo, celebrado em 27 de agosto, ela destaca que uma inteligência artificial não consegue substituir o profissional. “A máquina não tem a capacidade aprofundada de um tratamento, de te aconselhar de verdade, de ver todo o seu processo, é um aconselhamento raso, supérfluo, que não vai levar a um tratamento de verdade. A máquina não vai questionar, não vai falar que está errado, por isso muitos preferem manter esse contato, porque seguirá como certo e terá menos conflitos”, ressalta. “A inteligência artificial trará soluções fáceis, porque ela não tem a capacidade empática de sentimento como nós psicólogos que estudamos tanto para isso. Às vezes você vai tentar aplicar aquilo, mas não vai conseguir porque aquela não é a melhor estratégia. Nós conseguimos analisar o perfil do paciente, ver qual técnica vai ser melhor para ele”, completa.
Substituição
Ana Beatriz Sahium salienta que é impossível o psicólogo ser substituído por uma IA. “Esses programas não tem a capacidade de entender o que você já passou, porque nenhum problema é de agora, o que eu passo hoje, por exemplo, como adulto, é uma coisa que vem da minha infância, da minha adolescência, e o programa não vai investigar isso, vai tratar o raso, apenas o que você está perguntando ali”, destaca. “O psicólogo tem a capacidade de ver de onde vem isso, por que você mantém isso, quais são os seus gatilhos, dentro do processo terapêutico, a investigação é profunda, é uma troca difícil, é um processo longo”, completa.
Segundo a especialista, ao fazer uma terapia com o psicólogo é possível observar a evolução do paciente. “Você irá observar as suas facilidades, dificuldades e vai crescendo com isso, enfrentando. Dentro do processo terapêutico existem trocas, que com a inteligência artificial não é possível. A terapia com a inteligência artificial não é terapia. A gente não tem nenhuma comprovação com as IAs, com o chat GPT, então isso pode trazer muitos malefícios para o paciente, que ele não vai saber como dominar aquilo, ele está desabafando, mas ele não vai ter a técnica para conseguir realmente resolver aquele problema”, alerta.