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Aumento do câncer de intestino em jovens preocupa especialistas



Morte da cantora Preta Gil despertou interesse do público para a saúde intestinal. Pedido por consultas aumentou, observa médica coloproctologista

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 45.630 novos casos de câncer de intestino neste ano.  Embora a maioria aconteça em pessoas acima dos 60 anos, tem-se observado um aumento significativo entre adultos jovens. Estudo publicado em dezembro na revista científica The Lancet Oncology, e realizado pela Sociedade Americana do Câncer, mostrou que a incidência do câncer colorretal de início precoce (entre os 25 e 49 anos) está aumentando em 27 dos 50 países e territórios analisados.

Segundo a médica proctologista Geanna Resende, que atende no Instituto Órion do Aparelho Digestivo, situado no Órion Complex, em Goiânia, as causas do aumento de novos casos de câncer de intestino em pacientes jovens estão sendo investigadas com afinco na comunidade científica. “Até o momento, os resultados indicam que as principais causas relacionadas são a obesidade, o sedentarismo e a dieta inadequada. Paralelo a isso, também são fatores de risco o tabagismo, incluindo os cigarros eletrônicos, e o consumo  de bebida alcoólica”, informa.

A morte da cantora Preta Gil, que tinha 48 anos quando descobriu sua enfermidade, acabou servindo de alerta para o público cuidar melhor de sua saúde intestinal. Geanna observa que o volume de pedidos de consultas preventivas cresceu desde seu falecimento. “É triste saber que, infelizmente, precisou morrer uma pessoa notória para que a população se dê conta que não se pode negligenciar o câncer de intestino, que já é o segundo mais frequente no Brasil”, diz a médica, ao lembrar também que é importante que os órgãos de saúde façam mais campanhas de conscientização. “Muito se divulga sobre a prevenção do câncer de mama e de próstata, mas pouco com relação ao câncer de intestino”, salienta.

Alimentação

Geanna Resende ressalta que a alimentação está intimamente relacionada ao câncer de intestino. “Deve-se evitar alimentos industrializados, embutidos, processados, açúcar e farináceos. Os alimentos que devem ser ingeridos, os considerados anti-cancerígenos, são as fibras alimentares (frutas, folhas, cereais) e alimentos integrais. Uma alimentação saudável é o principal pilar da nossa saúde. Associada a exercícios físicos regulares, sono de qualidade e controle do estresse, estaremos cuidando da nossa saúde intestinal de uma forma geral, melhorando a quantidade e a diversidade da nossa microbiota intestinal e, desta forma, estaremos diminuindo a incidência de obesidade, doença metabólica e dislipidemia, que são sabidamente fatores de risco para o câncer de intestino”.

No início o câncer de intestino costuma não apresentar sinais. “Ele é silencioso. Nas fases mais avançadas surgem sintomas como alteração do ritmo intestinal (mudança no padrão das evacuações), afilamento das fezes, muco e/ou sangue nas fezes, anemia sem causa definida, perda de peso sem causa aparente, dores abdominais recorrentes”, elenca a médica. “Mais do que esperar o aparecimento dos sintomas, é entender que a grande maioria dos cânceres de intestino provém dos pólipos, que são tumores benignos, que sofrem um processo de alteração celular (displasias) ao longo dos anos, até se transformarem em malignos. E estes pólipos também são assintomáticos. Desta forma, é importante fazermos o exame de prevenção e retirarmos esses pólipos”, completa.

Ela explica como iniciar essa prevenção. “Caso você não apresente nenhum sintoma citado e na ausência de casos de câncer ou pólipos intestinais na família, o consenso é iniciar a prevenção através do exame de colonoscopia, aos 45 anos, independente do sexo. Do contrário, o exame deverá ser realizado mais cedo, dependendo de cada caso. A colonoscopia permite não só diagnosticar o câncer de intestino, mas também os adenomas, que são tumores benignos de intestino que se malignizam com o passar dos anos. Já durante o exame, estes pólipos já são retirados”.

Tratamento

De acordo com Geanna Resende, uma vez diagnosticado no início, a doença tem altas chances de cura. “O tratamento do câncer de intestino depende da fase em que ele é diagnosticado. Em uma fase inicial, já durante o exame de colonoscopia, pode-se realizar a retirada do mesmo, sem necessidade de complementar com cirurgia. Em fase mais avançada, o tratamento do câncer de cólon (intestino grosso) e parte superior do reto consiste em cirurgia, com necessidade de complementação ou não com quimioterapia ou imunoterapia, a depender da análise da peça retirada e da idade do paciente. Já o câncer de reto médio e inferior, realizamos quimioterapia e radioterapia inicialmente, com cirurgia semanas depois”. 

Ainda sobre as pessoas mais novas, a médica coloproctologista explica sobre a atuação da enfermidade. “Em indivíduos jovens, os estudos mostram que o câncer de intestino tem um comportamento mais agressivo quando comparado aos pacientes acima de 50 anos, o que nos alerta para que busquemos formas de atingir os mais jovens com informações relacionadas à importância dos cuidados com a saúde intestinal e a saúde global. Estudo recente mostrou inclusive, que pacientes operados por câncer de intestino que no seguimento pós operatório realizaram exercícios físicos regulares individualizados, tiveram menos recidiva do câncer quando comparados ao grupo que permaneceu sedentário. Cuidar da saúde é muito melhor do que tratar a doença já estabelecida”, conclui.

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